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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

"O 1º de Dezembro..." transcrição de um manifesto de valor permanente e universal

 OPINIÃO - Movimento 1.º de Dezembro

1.º de Dezembro: carta a Vasco Pulido Valente

Notícia do Jornal Público recp. na ligação abaixo

https://www.publico.pt/2014/12/16/opiniao/opiniao/1-de-dezembro-carta-a-vasco-pulido-valente-1679447


Pela sua universalidade, pertinência e permanência [enquanto o jornal Público consentir] transcrevemos este muito pertinente, bem elaborado e bem estruturado manifesto:

“1. VPV [Vasco Pulido Valente] começa por menosprezar a Restauração e o 1.º de Dezembro do ponto de vista histórico, com uma leitura ideológica algo enviesada.

Discordamos, mas não é este o ponto deste texto. A Restauração, período que vai desde o 1.º de Dezembro de 1640 a 13 de Fevereiro de 1668, data de assinatura do Tratado de Lisboa que estabeleceu a paz com Madrid, é objecto de diferentes leituras e interpretações pelos historiadores.

O fundamental é que, a partir daí, a partir do 1.º de Dezembro e da Guerra da Restauração em que saímos vitoriosos, Portugal reganhou a sua independência plena, de novo com soberano próprio – foi posto termo ao domínio filipino e à chamada monarquia dual, em que Portugal estava sujeito a rei espanhol desde 1580, mais exactamente desde as Cortes de Tomar, que, em Abril de 1581, reconheceram Filipe II como soberano também no nosso país (Filipe I de Portugal).

2. Vasco Pulido Valente escreve, a seguir: "Na segunda metade do século [XIX], ninguém se lembrava do '1 de Dezembro' e os críticos do regime, de Ramalho Ortigão aos republicanos, desprezavam e ridicularizavam a “Sociedade 1.º de Dezembro” (que não sei se ainda existe), como centro de propaganda da corte e dos Braganças. Só os criados se metiam nessa fantasia, que o grosso do país letrado não levava a sério."

Primeiro, uma informação: sim, ainda existe. Nunca se chamou “Sociedade 1.º de Dezembro”, mas [sim] “Comissão Central 1.º de Dezembro de 1640”; e denomina-se, hoje, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, designação que adoptou nos anos ’20 do século passado. Celebrou há poucos meses 153 anos de existência e actividade. Hoje, como desde o início, tem sede no Palácio da Independência, o antigo Palácio dos Almadas onde nasceu a revolta dos 40 conjurados de 1640.

Em segundo lugar, as correcções.

A Comissão Central 1.º de Dezembro de 1640 foi o pólo da prolongada movimentação que, mais tarde, depois de décadas de persistente intervenção cívica, levaria à instituição legal do feriado nacional do 1.º de Dezembro. Foi fundada em 24 de Maio de 1861, tendo lançado um Manifesto em 25 de Agosto do mesmo ano, na tal "segunda metade do século, [em que] ninguém se lembrava do 1 de Dezembro", segundo VPV.

Nesta mesma segunda metade do séc. XIX, a Comissão Central desenvolveu vasta actividade pública, por iniciativas sociais, editoriais e culturais, nomeadamente concursos de teatro, récitas, conferências de carácter histórico-cultural e político-institucional e exposições didácticas. E dinamizou campanhas públicas de angariação de fundos de que resultou a edificação de importantes monumentos, de cunho português e patriótico: a estátua a Luís de Camões, em Lisboa (1867); a estátua ao poeta Bocage, em Setúbal (1871); a estátua a Sá da Bandeira, em Lisboa (1884); o Monumento aos Restauradores, também em Lisboa, na actual Praça dos Restauradores (1886); e a estátua a D. Afonso Henriques, em Guimarães (1888). Tudo isto no período em que, segundo VPV, a “Sociedade 1.º de Dezembro” estaria votada ao desprezo e ao ridículo.

Mais interessante é conhecer a lista dos tais "criados", os únicos que, segundo VPV, "se metiam nessa fantasia, que o grosso do país letrado não levava a sério."

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Os fundadores da Comissão Central 1.º de Dezembro e signatários do Manifesto de 1861 foram 40 destacadas figuras da sociedade portuguesa do tempo, incluindo políticos, como Anselmo José Braamcamp (que foi líder do Partido Histórico ou Partido Progressista, um dos dois principais partidos da Regeneração), ou o celebrado tribuno José Estêvão; historiadores, como o grande Alexandre Herculano e Luís Rebelo da Silva; outros escritores, como José da Silva Mendes Leal ou Pedro de Brito Aranha; industriais de renome, como Domingos Ferreira Pinto Basto (da segunda geração da “Vista Alegre”) ou António José Pereira Serzedelo Júnior (que muito marcou, tal como seu pai, as primeiras décadas do “Banco de Portugal”); além de ilustres diplomatas, bibliógrafos, jornalistas, publicistas e comerciantes, presidentes da Câmara Municipal de Lisboa e governadores civis. Ditosa Pátria que tais “criados” tem!

É também difícil imaginar que destacadas figuras da “esquerda” liberal portuguesa desse tempo, como José Estêvão e Manuel de Jesus Coelho (ambos antigos combatentes da “Patuleia”), além de Alexandre Herculano, consumissem os seus dias a fazer "propaganda da corte e dos Braganças", como é a ideia transmitida por VPV.

3. Vasco Pulido Valente escreveu ainda: "Os republicanos, logicamente, não continuaram os festejos da dinastia (agora no exílio) e os monárquicos para se poupar a maçadas também não. O próprio Salazar, embora restaurasse o feriado, nunca fez um alarido à volta do caso e deixou a 'Sociedade' agonizar no Rossio com a maior indiferença."

Nada de mais errado.

O feriado do 1.º de Dezembro foi instituído, em lei, pela 1.ª República (e não por Salazar), logo nos primeiros dias, gesto que marca o pleno sucesso das movimentações cívicas das décadas anteriores. É o primeiro Governo Provisório da República Portuguesa que, por Decreto de 12 de Outubro de 1910, consagra o dia 1 de Dezembro como feriado nacional, então designado como dia da “Autonomia da Pátria Portuguesa” e, pouco depois, “dia da Independência e da Bandeira”. Passou, assim, a ser o mais antigo dos feriados civis portugueses, pacificamente celebrado de modo ininterrupto, desde 1910 até à sua infeliz eliminação em 2012.

Os actos centrais das celebrações nacionais, junto ao Monumento aos Restauradores, eram já organizados em parceria da Comissão Central 1.º de Dezembro (hoje, Sociedade Histórica da Independência de Portugal) e da Câmara Municipal de Lisboa, como ainda acontece apesar da abolição do feriado com efeitos desde 2013. Juntamos, para pleno esclarecimento dos leitores, fac simile do Diário do Governo de 13 de Outubro de 1910 e fotografia das primeiras celebrações oficiais do feriado nacional do 1.º de Dezembro, em que se vêem, entre outros, Manuel de Arriaga e Afonso Costa a celebrarem aquele que, segundo VPV, foi o “feriado restaurado por Salazar”.

4. A concluir, citamos um trecho de artigo recente de Luís Reis Torgal, um historiador à altura dos seus pergaminhos, com vasta obra publicada nesta matéria dos feriados: "O 1.º de Dezembro é o feriado civil mais antigo: sobreviveu à I República austera em festividades, ao Estado Novo que só recuperou os 'dias santos' em 1952 e à chegada da democracia, que nunca aboliu feriados mas acrescentou vários ao calendário." O mesmo que criticou há poucos meses: "Terminaram com o feriado da Restauração, um dos mais simbólicos da nossa independência e afirmação. É como se estivesse em causa o nosso sentido de independência, dificilmente conseguido."

O 1.º de Dezembro não é da República, nem da Monarquia, não é da direita, nem da esquerda. É o dia de Portugal inteiro, o mais nacional de todos os feriados nacionais. É o dia que celebra aquele valor sem o qual não existiríamos sequer: a independência nacional. Fá-lo na circunstância da Restauração, porque foi o momento em que, da última vez que a perdemos, a reconquistámos.

O 1.º de Dezembro celebra o valor fundamental da independência de Portugal, desde sempre e para sempre, como o dia nacional mais importante, à semelhança da generalidade dos países europeus e de muitos outros no mundo. Foi a data que a sociedade portuguesa livremente escolheu para esse efeito e que, mesmo fora das comemorações oficiais, continua a ser festejada em espontâneas evocações populares anuais, não só na raia alentejana e beirã (que mais sofreu a Guerra da Restauração), mas também um pouco por todo o país, em inúmeras localidades. Só não sabe quem não quer saber.”

[no teor] a opinião "contestada":





"Oitenta historiadores (80) escreveram uma carta aberta aos deputados da Assembleia da República, protestando contra a abolição de dois feriados civis: o "5 de Outubro" e o "1º de Dezembro". Dizem eles para se justificar que "nenhuma economia sobrevive à degradação do sentido da comunidade". Ninguém, ou quase ninguém, em Portugal sentiu no próximo ou em si próprio esse "espírito de comunidade", ou alguma vez por acaso lhe ocorreu que ele fosse necessário para "sobreviver à degradação da economia". Mas temos de acreditar em 80 historiadores, quanto mais não seja pela quantidade e pela qualidade de gente como Fernando Catroga, Medeiros Ferreira e Mário Vieira de Carvalho. Mas nem a reverência que sentimos por todos nos deve em última análise impedir de especular sobre as suas sem dúvida irrespondíveis razões.

Indo por ordem, convém lembrar que Portugal nunca esteve, como se costuma dizer em prosa patriótica, "sob o domínio de Castela" ou, se preferirem, "sob o domínio de Espanha". O arranjo de 1580 não passou de uma "união pessoal" da coroa portuguesa com a coroa de Castela (ou de Espanha) na pessoa de Filipe II, que era o herdeiro legítimo das duas. Como se vê nada que nos separasse na Europa do Império Austríaco ou do Reino Unido da Inglaterra, Escócia e Gales. De resto, a ordem jurídica portuguesa não mudou, nem a organização da Igreja, nem a defesa do Império, nem a carga fiscal que anteriormente se pagava. Só quando o conde-duque de Olivares nos pediu mais dinheiro e um pequeno contingente de soldados para a guerra europeia, o espírito patriótico da nobreza indígena finalmente acordou e resolveu instalar D. João IV num trono contestável e periclitante. O "1º de Dezembro" comemora a ascensão da dinastia de Bragança e não uma putativa independência que não deixara de existir.

Quanto à mudança da Monarquia Liberal para a República jacobina - excepto pela separação do Estado e da Igreja (uma cópia do radicalismo francês) -, não trouxe a Portugal o menor benefício e acabou em pouco tempo por lhe trazer Salazar. Grupos terroristas dominavam a rua, em Lisboa e em grande parte da província. A liberdade de imprensa ficou à mercê da tolerância do governo. E também, com frequência, a vida e a liberdade do cidadão comum. No célebre discurso de Santarém, Afonso Costa declarou que, fora do Partido Democrático, não existiam mais do que "traidores". Princípio que desde 1913 se aplicou rigorosamente pela astúcia ou pela pura força. Não se percebe muito bem como este exemplo contribui para que a "comunidade" nacional não se desagregue e para que a "economia sobreviva". Mas, perante a autoridade de 80 historiadores, é evidente que o país se deve curvar.”




sábado, 1 de dezembro de 2012

O feriado do 1º de Dezembro


Artigo de opinião
inauguração do monumento aos Restauradores, no dia 1º de Dezembro de 1886

O Feriado do 1º de Dezembro é o feriado fundador, é o "feriado dos feriados". Deixando de parte, pela sua universalidade, o 1º de Maio, dos feriados civis (ou políticos) portugueses, o 1º de Dezembro é, por várias razões, o mais importante feriqado civil ou "político". Não se querendo extremar as coisas até criar uma "hierarquia dos feriados", pode dizer-se, contudo, que há feriado a 10 de Junho porque houve antes a 1ª Comissão Central do 1º de Dezembro, convertida ou vertida na Sociedade Histórica-SHIP de 1868 e que desde a sua fundação e nas décadas seguintes desenvolveu uma considerável obra no âmbito da cultura, património, língua e identidade, soberania e independência nacionais.

O Feriado do 1º de Dezembro não comemora apenas a data de uma ruptura - ou tentativa de ruptura - na ordem política, como foi o caso dos feriados já extintos de 31 de Janeiro e 28 de Maio ou ainda é o caso do 25 de Abril, feriados que  (não obstante o autor desta opinião ser um acérrimo defensor dos valores de Abril), são sempre susceptíveis de substituição pela data da ruptura seguinte.

""Objecto, Pessoas e sociedade"
O Feriado do 1º de Dezembro nunca foi celebrado contra a Espanha. O 1º de Dezembro é o feriado que celebra os valores integrados de Soberania, Independência e Identidade, é o feriado que celebra a maturação do constitucionalismo português e é também o feriado que celebra os seus "pré-fundadores", a sua obra, a sua visão e o seu contributo para uma sociedade mais esclarecida, mais mutualista e menos desigual; o primeiro de Dezembro é, por isso, também o feriado que celebra Braamcamp, Alexandre Herculano, Brito Aranha, Serzedello Júnior, José Estevão, Silva Túlio, Mendes Leal, Fernandes Tomás, Duques  de Ávila e de Loulé, Sá da Bandeira e ainda dezenas de outros pares seus que marcaram generosa, abnegada e desinteressadamente a vida económica, cultural, associativa, administrativa e política do séc. XIX, a geração que também viria a ser, de alguma forma, a precursora dos principais feriados que ainda hoje comemoramos, desde o  5 de Outubro até ao 10 de Junho; e através desta geração, o 1º de Dezembro é ainda o feriado do esclarecimento e crescimento das classes laboriosas, da emancipação social, das associações de classe e do associativismo em geral (ver abaixo Instituições presentes na inauguração do monumento a Luís de Camões em 9 Out 1867). 

"Legitimidade"
Nem o feriado do 1º de Dezembro nasceu no decreto de 12 de Outubro de 1910 (o decreto que "decreta" os feriados civis portugueses), nem o impulso para as celebrações da Restauração nasceram num gabinete. O 1º de Dezembro nasceu na rua,  pelas mãos de um comerciante (Feliciano de Andrade Moura), vindo a congregar em torno de si e dos valores que celebra uma rápida e verdadeira adesão nacional. A eleição dos 40 membros (de novo os 40 conjurados) da 1ª Comissão Central decorreu do voto secreto de mais de 3000 cidadãos em 1861. O equivalente nos dias de hoje a bem mais que “cinquenta mil assinaturas”. E também por isso, o feriado do 1º de Dezembro continuará a ser, porventura, o mais sufragado (logo, legitimado) de todos os nossos feriados civis.

"retrocesso histórico"
Pretender "abolir" o feriado do 1º de Dezembro revela não só ausência de identidade e a ignorância do que são os tais "valores plurais" da Soberania, da Independência e da Identidade, mas também a grosseira ingratidão e falta de respeito de uns quantos pelas referidas dezenas de pares que revolucionaram desde o séc. XIX a sociedade portuguesa. Querer extinguir o feriado do 1º de Dezembro é não só desconhecer e negligenciar a História mas também revelar uma alarmante cultura anti-democrática. Em bom rigor, o feriado do 1º de Dezembro fará já parte, porventura, da Reserva Material da nossa Constituição. por um lado, e por outro, nenhum Governo terá legitimidade par abolir o mais sufragado e histórico dos feriados portugueses. Atenta a forma como o povo instalou este feriado a partir de 1861, apenas O Povo, pela via do Referendo, poderá decidir o seu destino e tanto a SHIP como os demais movimentos a ela unidos em torno desta ameaça deveriam demandar o Tribunal competente para impedir a concretização de tal ilegitimidade".

VMOliveira

A construção da Identidade e dos feriados civis
Assinaturas
 = Joaquim Pedro de Sousa.
EL-REI D. LUIZ = REI D, FERNANDO = DUQUE DE COIMBRA = Joaquim Antonio de Aguiar = João Baptista da Silva Ferrão de Carvalho Mártenâ = Augusto Cesar Barjona de Freitas = Antonio Maria da Fontes Pereira de Mello = Visconde da Praia Grande = José Maria doCasal Ribeiro = João de Andrade Corvo = Conde de Thomar = Conde d 'Avila = Duque de Loulé = Marquez de Sá da Bandeira, conselheiro d'estado e gererail cominandante da escola do exercito = Duque de Loulé, vice-presidente suppleinentar da camara dos dignos pares = Como presidente da camara dos deputados, Antonio Rodrigues Sampaio = O vice-presidente da commissão central dos subscriptores, Francisco de Paula Sant'lago = 0 secretario, Joaquim Pedro de Sousa =Vicesecretario, Luiz Tiburcio Ferreira = Carlos Krus = Antonio José Pereira Serzedello Júniorvogal da commissão central = Antonio da Silva Tulliovogal da commissão centralVisconde de Menezes = José da Silva Mendes Leal, vogal da commissão central = Abbade de Castro, vogal da commissão = Marquez de Sousa Holstein, vogal da commissão = José Pedro Collares Júnior = Visconde de Condeixa= Visconde de Valmor = José Silvestre Ribeiro — Roque = Joaquim Fernandes Thomás=João de Matos Pinto = Francisco Pinto Bessa, presidente da camara municipal
do Porto = Manuel dos Santos Pereira Jardim, presidente da camara de Coimbra = José Joaquim Alves Chaves = José Carlos Nunes = Joaquim José Rodrigues da Camara = Luiz Caetano da Guerra Santos = Nuno Joeé Severo Ribeiro de Carvalho = O vereador da camara do Porto, Alexandre Soares Pinto de Andrade = O vereador da camara do Porto, Antonio Cardoso dos Santos = O vereador da camara do Porto, Antonio Caetano Rodrigues = Antonio Lopes Barbosa de Albuquerque, como representante da camara municipal de Faro = Dr. Raymundo Venâncio Rodrigues, lente da faculdade de mathematica da universidade de Coimbra = D r . José Adolpho Troni, lente de direito = Dr. João José de Mendonça Cortez, lente de direito = Dr. Joaquim José Maria de Oliveira Valle, oppositor em direito = Conde d'Avilavice-presidente dai academia real das sciencias = José Tavares de Macedo = Joaquim Pedro Celestino Soares = Sebastião Lopes de Calheiros e Menezes, director da escola polytecbnica = Conde de Ficalho = Fernando de Magalhães Villas Boas, secretario da escola polytechnica = José Eduardo de Magalhães Coutinho, pelo director da escola medico-cirurgica = Dr. Abel Jordão, lente secretario da escola medico-cirurgica de Lisboa = José Antonio de Arantes Pedroso, lente da escola medico-cirurgica = Dr. Pedro Francisco da Costa Alvarenga, lente da escola medicocirurgica de Lisboa = Luiz Augusto Rebello da Silva, pelo curso superior de letras = Jayme Constantino de Freitas Moniz, peio curso superior de letras = Antonio Maria Barbosa, socio da academia das sciencias, e lente da escola medicocirurgica de Lioboa=João Ignacio Ferreira Lapa, socio effectivo ria academia, lente do instituto geral de agricultura = João Christino da Silva, professor da academia real das bellas artes de Lisboa = Luiz Assencio Tomasini, académico de mérito da mesma academia = Conde dc Thomar (Antonio), vice-presidente da academia promotora das beilas artes = J o s é Ferreira Chaves, viee-secretario da mesma sociedade = Carlos Vizeu da Costa, fidalgo cavalleiro e moço fidalgo com exercício = Luiz Filippe Leite, director da escola normal de Lisboa = O presidente da associação dos ourives da prata, Antonio Maria Tavares = O vogal da acima dita, Caetano Felix de Figueiredo = D. Luiz da Camara Leme, socio correspondente da academia das sciencias = Francisco Vieira da Silva, presidente do centro promotor dos melhoramentos das classes laboriosas = Antonio José Freixão Coelho, presidente da associação dos empregados do commercio c industria, e pelo asylo de S. João = Antonio da Silva Bello,vice-presidente da associação dos empregados no commercio industria, servindo de presidente e representando a mesma associação = José Thomás Salgado, presidente dos alumnos Minerva = Joaquim Luiz Ferreira, secretario da associação dos empregados no commercio e industria = José 1.° vice-secretario da associação dos empregados no commercio e industria = Antonio Maria Antunes, presidente associação dos latoeiros de folha branca = Mathias José Coelho, secretario dos latoeiros de folha branca = Antonio Ignacio de Jesus e Silva, presidente honorário da associação fraternal dos barbeiros, amoladores e cabelleireiros = Antonio José Guilherme Parreiras, presidente da assembléa geral da mesma associação = José Antonio Godinho, actor do theatro da rua dos Condes = Manuel Maria Soaras, idem = Francisco Antonio Lopes de Abreu, peio monte pio dos actores = Pedro Wenceslau de Brito Aranha, pelo Archivo Pittoresco = Domingos Pedro de Alcantara, de Meira Barbosa = João Francisco Júnior presidente da mesa da associação de trabalho para os fabricantes de seda = Antonio Thomás de Sousa, presidente da associação dos marceneiros lisbonense» = Francisco Antonio de Almeida =-José Joaquim Rato, vice-presidente da associação das classes laboriosas.


domingo, 1 de janeiro de 2012

Editorial

"E colocadas estas, impõe-se colocar a questão sobre a mais intrigante das omissões ou ausências:

- Chegando a ser durante o séc. XIX os Serzedello (e em gande medida, os que ainda foram baptizados na pia Baptismal da Igreja de São Pedro de Serzedelo) uma das mais prósperas e aristocráticas famílias de Lisboa e tenham feito sucessivos casamentos com as demais famílias do séc. XIX, portuguesas ou estrangeiras cujos nomes cujos chegaram até aos nossos dias (Braancamp, Pinheiro Chagas, Brito Aranha, Iglésias, etc.), o mesmo acontecendo em boa medida no Rio de Janeiro a partir de 1830-1840 (o princípio das construções da comercial e próspera Rua do Ouvidor da activa baixa comercial carioca é empreendimento de um Serzedello iniciado por volta de 1830); sendo igualmente reputados de empreendedores, generosos, filantrópicos, empenhados no melhoramento das pessoas e dos lugares, como explicar que nada tenham feito na ou pela Póvoa de Lanhoso e que aí nada tenham deixado de seu para a história local?..."
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Nota técnica:
Com excepção do "Editorial", todas as datações são apócrifas; usar-se-á a data como um ordenador-indexador, a fim de manter agrupadas as publicações por épocas e temas. Pretendendo-se que este blog seja, sobretudo, um repositório, a datação é utilizada como forma de ordenar arbitrariamente as ditas publicações.
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Criar um Blog  sobre "Os Serzedello" quando qualquer um de nós,  na geração dos seus trisavós, já conta com 16 trisavós (e este número de avós duplica a cada geração mais que se recua) e outras tantas famílias distintas e igualmente "desconhecidas" umas das outras, pode parecer forçado ou obsessivo. Contudo - e apesar de não ser caso único na história da genealogia e patronímica portuguesas - há algumas peculiaridades nos "descendentes" deste apelido que poderá justificar este trabalho:

       - Os que exercem influência empresarial, económica, associativa, política e social até à década de 60 de oitocentos ainda são todos oriundos da Póvoa de Lanhoso e nascidos no então "Couto de Serzedello", concelho de Ribeira de Soaz (hoje S. Pedro de Serzedello, Póvoa de Lanhoso);

     - A assunção do apelido Serzedello não é local, não acontece no assento de nascimento,   mas acabaria por ser sucessivamente assumida por vários ramos e gerações ao ponto de vir a ser um verdadeiro passaporte social e económico durante cerca de 200 anos em Lisboa ou no Brasil;
    - Parecer haver, ao "olhar" para a atribuição deste e dos demais apelidos (Pereira e Vieira), um laivo de matriarcado porque são desde o início de 700 os apelidos das mães e foram os que ao longo de pelo menos 10 gerações (e 3 séculos) predominaram, mesmo quando continuam a ser os das mães (ainda que esta nuance possa ser explicada também pela função passaporte social);

   - Ao longo dos Séculos XVIII, XIX e princípios do séc. XX os Serzedello não são - salvo raras e muito pontuais excepções como será o caso dos António José e José António e dos seus júniores - progenitores de proles pequenas, pelo contrário, abundam as descendências familiares que contam seis, sete, oito (e até dez) filhos. Naturalmente que tantos rapazes e raparigas casaram com muitos outros rapazes e raparigas que trouxeram para juntar aos primeiros os seus próprios patronímicos, mas em grande parte desses casamentos, mesmo quando estes tomavam a cauda do nome, a meio mantinha-se teimosamente o Serzedello, assim resultando nos apelidos Serzedello Netto, Serzedello de Almeida, Dentinho Serzedello de Almeida, (um exemplo curioso e ilustrativo é o de Alice Carmen Neto Pereira Serzedelo Higgs de Almeida - fins do séc. XIX, filha de Carlota Augusta Neto Pereira Serzedelo e de Joaquim José d' Almeida) Serzedello do Nascimento, Serzedello Palhares, Serzedelo Presler e outras conjugações. Data desta altura uma das excepções conhecidas, a de Heitor Villa-Lobos[1], cujo sobrenome predominante seria o de seu pai (Silveira Villa-Lobos, açoreano) e não o da mãe (Pereira Serzedello). Ora foram também esses sobrenomes (ou apelidos) os que passaram para os seus filhos e filhas desde o séc. XVII até ao Séc. XXI, de tal forma que quando quando olhamos para o apelido Serzedello - e são ainda inúmeros os Serzedelo ocultos, isto é, os ramos familiares Serzedelo onde o sobrenome desapareceu nas sucessivas gerações! - na quarta, sexta ou oitava geração anterior de cada um de nós, não estamos a olhar apenas para um dos tais 16, 32 ou 64 avós mas sim para um autêntico chapéu de chuva que foi abrigando vários desses hepta, penta e trisavós à medida que deram o braço aos/às Serzedello, manifestação que entrando ainda, como se disse, pelo séc. XXI adentro, seria razão bastante para procurarmos perceber e explicar este fenómeno patronímico.

Por outro lado - e como nota de densidade e riqueza históricas - são de notar ainda os seguintes aspectos,

   - O facto de apesar de ir sofrendo a dispersão geográfica normal - e muito particularmente naquela época, a da segunda grande vaga de idas para o Brasil estimulada pela "fuga" da Família Real - ao longo das gerações seguintes a esmagadora maioria dos indivíduos dessas várias gerações se terem, em boa medida, reunificado num território quer físico, quer afectivo quer até profissional e económico: tanto em Portugal como no Brasil, os Serzedellos estão, ao longo do séc. XIX, tão e em tal número dedicados ao negócio químico-farmacêutico que  poder-se-ia arriscar dizer que pelo menos ao longo desse século, o apelido Serzedello, em Lisboa, no Rio de Janeiro, no Paraná, em Pernambuco ou até no Pará, significa "química/químicos e farmácia";

   - o pioneirismo desta (vasta) família no desenvolvimento químico e tecnológico daquele século, o Laboratório-fábrica da Margueira dos irmãos Serzedello (a Serzedello & Cia) que terá sido o maior laboratório do género até ao fim do referido século, levando, com os seus pares industriais e comercias de então, a destacadas presenças em várias exposições universais da segunda metade do século XIX, com destaque para a de Filadélfia em 1876;

   - o facto de serem progressistas ao longo de várias gerações, Constitucionalistas contra o Cartismo (José António Pereira Serzedello integrava em 1822 o grupo de subscritores de um manifesto constitucionalista e integrava a "Sociedade Histórica Constituição"), Setembristas contra o Cabralismo  (António José Pereira Serzedello e o filho AJP Serzedello Júnior eram Setembristas indefectíveis, sendo este último amigo pessoal de Rodrigues Monteiro e tendo sido também director-interino do seu "Revolução de Setembro");

    -  Terem estado envolvidos, em paralelo com as suas actividades empresariais de comércio e comércio marítimo, navegação e transporte marítimo de pessoas e bens, indústria (Serzedello & Companhia, Fábrica de Fiação e Tecidos Lisbonense e outras), banca (Banco de Lisboa e Banco de Portugal, Banco Comercial de Lisboa - mais tarde adquiirido pelos Espírito Santo - Caixa de Crédito do Rio de Janeiro),  na actividade político-administrativa (actividades que ao tempo, e a bem da ética, não eram remuneradas):
                 a) José António Pereira Serzedelo foi Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, b) o irmão António José Pereira Serzedelo foi Vereador da mesma Câmara e deputado das Cortes,  c) o seu filho António José Pereira Serzedelo Júnior foi igualmente vereador da Câmara Municipal de Lisboa, além de ter integrado várias comissões político-administrativas, merecendo destaque a Direcção Geral das Alfândegas (que, pelo reconhecimento da Nação e do Governo, lhe viria a trazer a Comenda da Ordem de Vila Viçosa);

     - Terem participado empenhada e profundamente no movimento associativo vertical, de pessoas singulares ou colectivas e de interesse profissional, empresarial ou sóciopolitico, sendo várias as Associações que ajudaram a fundar e que dirigiram (Sociedade Histórica Constituição, Sociedade Promotora do Esclarecimento das Classes Laboriosas, Ass. dos Emp Comércio, Assoc. Comercial de Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP.PT) Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL.PT), etc.;

     - Terem sido, com os seus pares, promotores do ensino nocturno para as classes trabalhadoras mas também de uma visão activa de responsabilidade social das empresas, criando ligo a partir de meados do séc. XIX bairros operários integrando escolas, cheches e enfermarias, sendo a caso da Fabrica de Fialção de Tecidos Lisbonense o mais interessante de estudar porque terá sido a primeira a edificar bairros operários integrando escolas e enfermarias; Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (pai e tio de outro Pinheiros Chagas também conhecidos), professor, jornalista e político do séc. XIX foi um dos professores dessas escolas;

     - terem tido ainda participação intelectual activa nas matérias sócio-políticas do seu tempo, e mais particularmente o AJPS Júnior, que viria a publicar "doutrina" em matéria de regulação bancária (princípios da emissão de papel-moeda e e circulação fiduciário) e de Economia Política: Foi conferencista e membro activo da Sociedade Promotora do Esclarecimento das Classes Laboriosas, além de estar com os seus pares da época, na 1ª Comissão Central do 1º de Dezembro (e do início da comemoração oficial da data da Restauração) e mais tarde da Sociedade Histórica Independência de Portugal (www.ship.pt) e ainda da Sociedade de Geografia de Lisboa (www.sgl.pt), na parceria de  homens definidos por biografistas da época como a nata intelectual da sociedade portuguesa e que os Serzedelo juntamente com Herculano, Braancamp, Pinheiro Chagas, António Augusto Aguiar, Brito Aranha, Silva Túlio e muitos outros, integravam;

       -  o seu papel doutrinador e referenciador na banca portuguesa,  desde o Banco de Lisboa (fundado em 1821/1822) até à fundação e Direcção do Banco de Portugal (que resulta da fusão do Banco de Lisboa com a casa bancária Confiança em 1847) e que sendo um banco tão igualmente privado quanto os demais, pouco depois da sua fundação era o maior banco português e o banco de referência; a direcção dos Serzedello (com os demais pares, naturalmente) durou 28 anos (AJP Serzedello pai de 1850 a 1872 e o AJP Serzedello Júnior de 1873 a 1878) e é uma direcção que marca o Banco de Portugal, quer em termos do seu crescimento, quer da aquisição da identidade proba que fez dele o banco de referência, o que teria como consequência que décadas mais tarde passasse a ter a exclusividade de emissão de moeda; sendo AJP Serzedelo Júnior favorável a uma certa liberalização/liberdade bancária desde que se respeitassem princípios sérios de emissão e circulação a bem da fidúcia das notas, depois de estudos e publicações avulsas, viria a publicar um documento doutrinário/doutrinador rapidamente "assimilado" pelo universo da economia, banca e finanças europeu ("os bancos e os princípios que regem a emissão e circulação das notas");  

      - o facto de haver pelo menos três indivíduos Pereira Serzedello distinguidos com nomeações da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa Padroeira de Portugal: foi atribuída a medalha do Grau de Cavaleiro ao acima referido José António Pereira Serzedello (além da medalha da Febre Amarela) em reconhecimento dos seus serviços humanitários na crise da Febre Amarela por volta de 1850; Foi nomeado Comendador da mesma Ordem o seu sobrinho (também acima referido) António José Pereira Serzedello Júnior, em reconhecimento do seu trabalho aturado e gracioso nas décadas de 60 e 70 do séc. XIX e mormente pela reorganização da tesouraria da Alfandega Portuguesa; Foi ainda nomeado Comendador outro seu sobrinho (e primo e cunhado do Júnior, filho da sua irmã Marianna Cândida), Bento José Barboza Serzedello, natural de Caires, Amares e já estabelecido no Brasil antes dos 30 anos (1860), pelo seu trabalho de cariz social e humanitário em obras sociais (Caixa de SOcorros Mútuos D. Pedro V, Liceo Litherário Portuguez, Venerável OPrdem Terceira da Virgem do Monte do Carmo e outrs) nas mesmas décadas de 60 e 70, no Rio de Janeiro. Em e conformidade existem estes três registos na Academia Farelística Portuguesa: Comendadores António José Pereira Serzedello Júnior e Bento José Barboza Serzedello; Cavaleiro - José António Pereira Serzedello.

             Os Pereira Serzedello não são uma família de "heráldica" e cuja história e cultura familiar se tivesse construído em torno de um couto, senhorio, domínio senhorial, ou similar. Pelo contrário, é uma família proprietários e empresários laboriosos e empreendedores que logo no início do Séc. XVIII se vão separando geograficamente, estando já radicados em Lisboa na segunda metade do séc. XVIII vários indivíduos Serzedello[2]. Sem prejuízo de a cada passo se ter que rever/reeditar este editorial, pela informação recolhida até agora, a diáspora dos Pereira Serzedello começou com os filhos de José Alvares e Josepha Pereira (Serzedello). A Josepha Pereira nasceu em 1685 (1685-1769) no lug de Cimo de Villa, casou em 1710 teve o seu primeiro filho (Domingos Manuel Pereira) em 1711 e em meados de 700 já estão radicados em Lisboa (paróquia de São Paulo) vários indivíduos Pereira Serzedello, embora sejam as duas últimas gerações nascidas no séc. XVIII as que virão a adquirir notoriedade pública em Lisboa, designadamente, João António Pereira Serzedello (neto de Josefa) que tendo nascido ainda na casa de família em Cimo de Villa, Serzedello (27 Jun 1762), na primeira década de 1800 já está estabelecido em Lisboa  como João António Pereira Serzedello & Cia - Drogas e prod. químicos (também por esta altura já está estabelecido em Lisboa um Bento Jos´+e Vieira Sedrzedello que será primo deste)  e em 1822 é um dos fundadores do Banco de Lisboa, banco que marca o início do Capitalismo Financiero em Portugal e logo a seguir e depois de terem sido oficiais militares, os sobrinhso deste, António José, António Joaquim e  José António Pereira Serzedello, filhos da sua irmã Maria Josepha Pereira Serzedello, todos nascidos nas duas últimas décadas do séc. XVIII no Couto de Srzedelo (hoje, São Pedro de Serzedello, Póvoa de Lanhoso).  Juntos criaram em 1822 a Serzedello & Cia, uma empresa (Laboratório-Fábrica) de química e farmácia que viria o ser o maior do séc. XIX, tendo durado cerca de um século e no qual terão trabalhado 5 gerações Serzedello. Na mesma altura, uma irmã daqueles, Marianna Cândida, casava para Amares, também no Norte do País, com um Barboza que já tinha negócios no Brasil, e deste ramo familiar sairiam ainda duas gerações de empresários que foram sucessivamente para o Brasil e para o mesmo negócio dos químicos e farmácia, aí se radicaram, destacando-se (no ramo dos químicos e da farmácia) - além de outros - o seu filho Bento José Barboza Serzedello que aos 17 anos de idade já estava no Brasil e em 1850 já era um industrial e comerciante nessa mesma área, e pelo menos um dos seus netos (e sobrinho daquela) Arthur Vieira Barboza Serzedello (farmacêutico), que logo no início de 900 estava estabelecido na Rua Sr dos Passos, no Rio de Janeiro com um estabelecimento de farmácia e material hospitalar.

Numa época em que não há meios de comunicação que permitam uma comunicação de proximidade ainda que relativa e por outro lado,  qualquer comunicação, indagação, partilha ou desabafo entre os parentes de Portugal e Brasil, por exemplo, teria de contar com um diferimento de pelo menos três a cinco meses na resposta; com uma separação (ou distância) espacial e temporal desta ordem, como explicar a origem destes tiques, preceitos ou determínios, incluindo a atenção, sensibilidade e actividade social que parece ser, em paralelo com as actividades económicas comuns, a outra grande grande marca familiar dos Serzedello (são três os Serzedello distinguidos com Ordens e Comendas no séc. XIX, dois deles primos carnais, um em Lisboa, o outro no Brasil, pelo sua filantropia, serviços/obras sociais e serviços graciosos de interesse público)?...

Ou ainda a filantropia de um Pressler Serzedelo que criou e pagou do seu bolso o primeiro jardim zoológica do Manaus?... Como explicar esta filantropia transversal aos vários indivíduos dos vários ramos familiares e de sucessivas gerações se não era pela via de uma comunicação estreita e permanente, porque não havia meios para tanto e tampouco seria ainda marca do apelido Serzedello porque nessa altura (fins do séc. XVIII, início do séc. XIX) o apelido Serzedello não seria ainda um passaporte ou salvo-conduto social e económico, viria a sê-lo, sim, a partir 1830/1840?... Se este "Clube" o não era pela via da comunicação estreita e da "tertúlia" regular, qual poderá ser a sua explicação, a da biogenética, uma de uma cultura transgeracional oitocentista que afecta tanto estes como os demais pares do seu tempo?...

E colocadas estas, impõe-se colocar a questão sobre a mais intrigante das omissões ou ausências:

- Chegando a ser durante o séc. XIX os Serzedello (e em grande medida, os que ainda foram baptizados na pia Batismal da Igreja de São Pedro de Serzedelo) uma das mais prósperas e aristocráticas famílias de Lisboa e tenham feito sucessivos casamentos com as demais famílias do séc. XIX, portuguesas ou estrangeiras cujos nomes cujos chegaram até aos nossos dias (Braancamp, Pinheiro Chagas, Brito Aranha, Iglésias, etc.), o mesmo acontecendo em boa medida no Rio de Janeiro a partir de 1830-1840 (o princípio das construções da comercial e próspera Rua do Ouvidor da activa baixa comercial carioca é empreendimento de um Serzedello iniciado por volta de 1830); sendo igualmente reputados de empreendedores, generosos, filantrópicos, empenhados no melhoramento das pessoas e dos lugares, como explicar que nada tenham feito na ou pela Póvoa de Lanhoso e que aí nada tenham deixado de seu para a história local?...

Algumas pistas:
- Os Serzedello nascidos em Serzedello em finais de 700 são são jovens oficiais militares na Lisboa da Revolução Liberal (1820); são Liberais indefectíveis entre os Liberais, são Constitucionalistas contra os Cartistas, são Setembristas contra Cabralistas;

- Tinham, como toda a sua vida demonstra, manifesta costela política; José António, Tenente, é membro fundador da Sociedade Histórica Constituição, um movimento criado "no dia seguinte" à aprovação da Constituição de 1822 e para a defender;

- Sabemos que o principal mentor (e rosto) das reformas administrativas das terceira e quarta décadas era Mousinho da Silveira, Um liberal Cartista que preferiu demitir-se da direcção das alfândegas ou até ser preso e a exilar-se (embora regressasse pouco depois), a jurar a constituição de 1822 (episódio protagonizado em Agosto de 1836) e podem adivinhar-se as tensões entre estas forças e aquelas que integravam os irmãos Serzedello (seriam assim referidos durante boa parte do séc. XIX), que continuavam activos na vida política da "Capital";

- Sabemos que Ribeira de Soaz foi extinto como Concelho, a seguir foi represtinado mas voltou a ser extinto quase imediatamente...

Assim, teriam os Serzedello alguma agenda para Ribeira de Soaz que acabando derotada pelas reformas de Mousinho da Silveira os fez amuar com a Póvoa de Lanhoso?...
...ou tratar-se-à de um caso de abandono e indiferença puro e simples?...

Asiol B Serzedello
Braga, Pt, 2010

[1] - É verdade, Villa-Lobos tem antepassados (tetravós) na póvoa de Lanhoso;
[2] - Embora ainda por validar, há documentos que podem vir a esclarecer se o Cerzedello que surge no Brasil em em meados do séc. XVIII (1759) já é desta família de Serzedellos;

Nota técnica:
As datas destas publicações são completamente apócrifas. Pretendendo-se que este blog seja, sobretudo, um repositório, a datação é utilizada como forma de ordenar arbitrariamente as ditas publicações.

A família Serzedello - Serzedelo

I

Origem e significado de "Serzedelo" (Serzedelo, Cerzedello) 

1. é um apelido, ou sobrenome, de origem portuguesa e "tomado" de um topónomo em finais do séc. XVIII por um pequeno grupo de  famílias oriundas de duas paróquais e freguesias do que é hoje o concelho da Póvoa de Lanhoso, designadamente [São Pedro de] Serzedelo e [São Tiago] de  Fonte Arcada [1]- os desta em menor quantidade, aliás, será apenas uma família a partir do Séc. XIX [3]

2. Enquanto topónimo, a palavra virá do latim cercetellus, que significa carvalhal, ou souto, evoluindo depois e sucessivamente para Cerzedello, Serzedello e finalmente, Serzedelo. Não custa muito aceitar esta explicação porque, de facto, os topónimos foram sendo atribuídos ao longo dos séculos quer pelas caraterísticas orográficas e geográficas do local a designar, quer pelas suas funções mais importantes para as populações, e daí a quantidade de localidades chamadas de Parada, de Portela, de Ponte de (Ponte de Lima, Ponte da Barca, Ponte de Sor, etc.) de Carvalhal e Carvalhais, de Couto e Souto d'isto e Souto daquilo, Albergarias, Caldas, etc.

II

Após alguns anos de recolha - e consolidação - de dados, não restam dúvidas de que, respetivamente,
- A Família Serzedello - Serzedelo que logo no início do Séc. XIX ganhou visibilidade na vida económica, administrativa e também cultural em Lisboa e no Brasil é uma e mesma, 
- são os Pereira de São Pedro de Serzedello hoje, concelho da Póvoa de Lanhoso e ao tempo (Séc. XVII), Couto de Serzedello da Ribeira de Soaz;
- na Diocese de Braga havia - de há - outra freguesia e paróquia Serzedelo, Santa Cristina de Serzedello, concelho de Guimarães, 
- mas pode afirmar-se com absoluta certeza de que não provêm desta nenhum dos membros desta vasta família,
- ao ponto de se poder dizer também com segurança que todos e todas estes e estas Serzedello - Serzedelo de apelido - ou sobrenome - [2] que surgem em Portugal e no Brasil em finais do séc. XVIII e depois em todo o séc. XIX, 
      a) são a e da mesma família, os Pereira [4], cujo berço foi, ao longo de cerca de 3 séculos, o Lugar de Cima de Villa / Cima deVila,
      b) e são todos - somos todos - consequentemente, primos!

[1]Fonte Arcada é a terra da famosa Maria da Fonte e Maria da Fonte, por sua vez, não se referirá a uma pessoa particular e concreta, antes designará o grupo de mulheres de Fonte Arcada, as amas de leite que em 1846, num primeiro momento de revolta de raiz verdadeiramente popular,  se insurgem contra o então  presidente da Câmara - que até Camilo Castelo Branco apoiava e elogiava - e que ato contínuo e já com a participação de forças políticas locais, evoluiria para a Revolução do Minho ou Revolução da Maria da Fonte e desaguou n'A Patuleia;


Maria da Fonte Maria da Fonte por Roque Gameiro, 1917

[2] - já em finais do Séc. XIX, no Brasil e sobretudo nas regiões/estados ou locais onde socio-politicamente davam nas vistas vários Serzedello - Inocêncio Serzedello Corrêa, político e militar muito ligado à primeira república, Randolpho Pereira Serzedello, médico e farmacêutico e Diretor de Saúde no Pará, Féliz José Pereira Serzedello, vice-consul também no Pará, Bento José Barbosa Serzedello no Rio de Janeiro e outros Serzedelloe graças à liberdade com que no Brasil se podiam atribuir nomes próprios, surge um fenómeno curioso, começaram a aparecer  nos registos de nascimento indivíduos Serzedello como nome próprio,

[3] - e por outro lado, já quase em 1900, uma outra família com raízes em S.P. de Serzedelo e Fonte Arcada (PVL) viria a atribuir-se também o apelido (Serzedello - Serzedelo (também a desenvolver adiante) e ficaram conhecidos na Póvoa de Lanhoso como "Os Serzedello de Fonte Arcada".
Ora estas duas exceções são isso mesmo, exceções que confirmam a regra e o que se afirma acima.

[4] - é um fenómeno para o qual ainda se não encontrou a explicação, ao longo de quase 4 séculos, ou quase 400 anos, este foi o apelido que "passou" para os descendentes, independentemente de ser da(s) mãe(s) ou do pai, num pais e numa cultura marcadamente patriarcais e cujos apelidos dos descendentes é quase sempre o paterno. 

III

As principais fontes das pesquisas genealógicas são, necessariamente, os Registos Paroquias. Infelizmente, relativos à paróquia de São Pedro de Serzedello, apenas se encontram registos a partir de 1642 (1642/1911) e com base nestes registos, temos as seguintes gerações em Cima de Villa,

1ª geração, nascidos nas primeiras décadas de 1600, Isabel Pereira (de Parada de Bouro), casada com Lucas Rodrigues; este casal teve pelo menos quatro filhas destacando-se a "matriarca" da 

2ª Geração, na segunda metade de 600, Josefa Pereira, casada com João Álvares, casal que teve também vários/as filhos/as, destacando-se o "patriarca" da 

3ª Geração, no início de 700, Domingos Pereira, casado com Rosa Carvalha; São os filhos deste casal que vão dar início à diáspora [5] dos Serzedello, do Minho para Lisboa e para o Brasil;
[3] - o termo diáspora não surge aqui apenas em sentido figurado: por um lado, o apelido Pereira é um dos muito apelidos dos judeus portugueses; por outro lado, há no agir desta família  - certas peculiaridades - qualquer coisa muito comum às comunidades judaicas. Não havendo nada até agora que legitime essa conclusão, inclinamo-nos para a possibilidade de que se tratasse de uma família de origem judaica.

Marcaríamos a 
4ª Geração, quer com Maria Josefa Pereira [Serzedello], que casou em Serzedelo (Cima de Vila) com Manuel António Gonçalves em 1784, 
              quer com o seu irmão João António Pereira Serzedello que, com outro irmão, Domingos José, terão sido os primeiros a ir para Lisboa ;

Do casamento de Maria Josefa e Manuel António Gonçalves nasceram (pelo menos) cinco filhos/as e nenhum deles ficará em Serzedelo; são a

5ª Geração, do último quartel de 700, da qual quatro dos irmãos vão para Lisboa,
 e uma para Caires Amares:
- Luiza Maria Pereira Serzedello, que casaria na primeira década de 800 com o seu tio João António Pereira Serzedello
- António José Pereira Serzedello, que casaria em 18xx com Ana Margarida Rebelo, 
- José António Pereira Serzedello, que casaria em xxx com Maria da Natividade Fogaça,
- António Joaquim Pereira Serzedello, que casaria em XXXX em Lisboa com Ângela de Jesus Caleia e que, tendo desta enviuvado, casaria em segundas núpcias com Maria dos Anjos Marques, e
- Mariana Cândida Pereira Serzedello, que casou para Caires, Amares, com Manuel José Barbosa.

[5] - o termo diáspora não surge aqui apenas em sentido figurado: por um lado, o apelido Pereira é um dos muito apelidos dos judeus portugueses; por outro lado, há no agir desta família  - certas peculiaridades - qualquer coisa muito comum às comunidades judaicas. Não havendo nada até agora que legitime essa conclusão, inclinamo-nos para a possibilidade de que se tratasse de uma família de origem judaica.
...

 "(...) o meu avô chamava-se Antonio Luiz Serzedelo , nao sei os outros sobrenomes; é português. O meu pai chama-se Pedro Luiz Duarte Silva Serzedelo de Almeida" (...)", 1º - porque ha TANTA gente com o sobrenome Serzedelo ou Serzedello, 2º, um amigo do cartório disse-me que muitos simplesmente acrescentam o nome Serzedello sem laços sanguíneos; pedi para ele verificar isso e ele me disse que ha um numero de pessoas com o sobrenome Serzedelo que seus antepassados nao eram Serzedelo, 3º, onde permenece o nucleo da familia, digamos assim, quem é realmente Serzedelo(ll), arriscando respostas mas não conclusões, e atento o facto de que muitos contributos de resposta já estão e outros mais virão a estar nas publicaçãões deste blogue, (sobretudo no que respeita à enorme quantidade de indivíduos Serzedello - Serzedelo),

    -   Serzedello de Almeida e Serzedello Dentinho de Almeida são, de facto, descendentes dos Pereira Serzedello, uns ficaram cá, outros no Brasil. A "prima" (e avó) Manuela Netto Rocha tem este(s) ramo(s) muito bem estudados na sua árvore genealógica que pode ser encontrada tanto no My Heritage como no/a Geni; há muita gente com o sobrenome Serzedello tanto cá como lá porque eram famílias "profícuas", muitos dos descendentes rumaram em força para o Brasil ao longo de mais de um século, onde se foram radicando (os Serzedello não cumprem o padrão do chamado Brasileiro de Torna Viagem) pelo menos ao longo de 80 anos onde, uns atrás dos outros, foram criando os seus negócios. Tampouco acredito que houvesse quem colasse o apelido Serzedello na sua cédula, sem mais, perlo contrário. São muitos os casos de Serzedello - Serzedelo que perderam o apelido e nem temos como saber, apenas se conhecem alguns casos porque publicam a sua genealogia (é o caso da família SIlveira - Villa-Lobos, por exemplo). Estou em crer que os tais Serzedelo que o amigo do Cartório lhe referiu como apossando-se do apelido sem laços de consanguinidade se inscrevem na exposição da publicação abaixo.

Pereira Serzedello - resenha da sua diáspora (sec. XVIII e ss)


[imagem encontrada em http://ujr-amlat.org/art/pt/dia-da-diaspora/ em 2021]

   A diáspora, ou dispersão, dos Pereira Serzedello / Serzedelo, naturais de Couto de Serzedello / S. Pedro de Serzedelo, primeiro do Concelho de Ribeira de Soaz e mais tarde - 1840 e ss - concelho da Póvoa de Lanhoso (Minho, norte de Portugal), iniciam-na os filhos de Domingos Pereira ( n. 5 Jun 1711 - f. 13 Jan 1770, 59 anos) e de Rosa Maria Carvalha (n. 18 Mai 1721 - f.  31 Dez 1792, 71 anos), designadamente,

- o Domingos José (n. em Serzedelo em 6 de Mar de 1753, f. em Lisboa em 1768) o João António (n. 29 Junho 1762), que foram para Lisboa na segunda metade de setecentos,

- e os sobrinhos destes e filhos da sua irmã Maria Josefa (n. 10 Set 1759), designadamente,

- para Lisboa e com o apoio do tio João António: a Maria Luiza (n. 10 Mai 1790; casou com o tio), o António José (n. 20 Set 1786), o José António (n. 11Jun1792), o António Joaquim (n. 25 Mai 1796)

- para o Brasil, o João António - sobrinho (n. 20 Mai 1788)

- Para Amares (Minho, Pt), a Mariana Cândida (n. 23 Set 1800)

                e cujos filhos (os Barbosa Serzedello), foram igualmente, a partir de 1840/50, para o Brasil e para Lisboa.

---

Resumindo - e limitada a informação pelo que se conseguiu apurar recuando a seiscentos [1], 

- há três gerações sedentarizadas antes desta dispersão, designadamente, a da Isabel Pereira casada com Lucas Rodrigues, a da filha Joséfa Pereira casada com José Álvares e a do filho destes, Domingos Pereira casado com Rosa Maria Carvalha

- e há depois as muitas gerações seguintes, quer em Portugal, quer no Brasil, a partir de fins de 700 e até à data.

[1] - há ainda a esperança de poder conhecer gerações anteriores, o que já só será/seria possível com base nos ainda existentes - e se existentes - arquivos paroquiais locais.

Continua a haver migrações ao longo do séc. XIX e XX, quer de Portugal (Amares e Lisboa, Elvas e outros locais, i.e., dos aqui nascidos), para o Brasil, quer dos nascidos no Brasil para Portugal c(e Lisboa, Amares e outros locais).

Ao levanta/conhecer e analisar a genealogia da Família Serzedello - Serzedelo, há que ter em conta três ou quatro nuances ou aspetos curiosos. 

- O primeiro, alguns primos Serzedello partilhamos a impressão, ou desconfiança, de que esta família Pereira seria de origem judaica, sendo que - até à data - não se encontrou qualquer dado objetivo que, sequer minimamente, ajude a sustentar essa impressão ou desconfiança, antes e apenas - e sem prejuízo de outros - dois elementos menos objetivos, ou até subjetivos, designadamente,

- - o apelido Pereira que vindo desde 1600 pelo menos, nos permite admitir a possibilidade de que se trate de Cristãos Novos, descendentes de Sefarditas; como se sabem os judeus foram obrigados a esta conversão e à adoção de novos nomes e sobrenomes/nomes de família, sendo o apelido Pereira um desses casos,

- - a predominância desse apelido como o sobrenome de família ao longo de várias gerações,

- - o modelo familiar e de riqueza económica,  o comércio, uma agroindústria pré-industrial - "os Moinhos de Domingos Pereira no Vale da Luz" (PVL),

- - e também as fisionomias, ou as feições, ou o fenótipo, que, realmente, não é o dos germânicos e godos que povoaram o Minho desde  os Séc. VII e VIII;

- o segundo, é que o sobrenome Pereira Serzedello apenas surge em fins do séc. XVII e em indivíduos Serzedello emigrados para Lisboa e para o Brasil, ocorrendo isto numa altura em que se verificou o acréscimo de topónimos de origem aos apelidos, assim ajudando a fazer a distinção entre muitos indivíduos de indivíduos com nomes e sobrenomes iguais;

- - efetivamente, os Pereiras que ficaram por Serzedello ou freguesias vizinhas - e é importante ter em conta que cada família tinha proles numerosas e são muitos os Pereira, Carvalha, Álvares, etc. na sua região de origem assim se mantiveram, mas Serzedello apenas aparece com os que vão para locais que já são metrópoles em formação, como Lisboa, Rio de Janeiro e outras 

[ver também, 

a)  

A família Serzedello - Serzedelo

b)

As "Intermitências" do sobrenome Serzedello / Serzedelo

As "Intermitências" do sobrenome Serzedello / Serzedelo

 As "intermitências" do apelido (ou sobrenome) Serzedello:

Datando de 1860/1870 o movimento (e a "sociedade" com esse mesmo nome e desígnio) para a Criação do Registo Civil e que era comum a Portugal e ao Brasil, no Brasil terá conseguido o seu objectivo a partir da 1870/1880 (aliás, em termos administrativos o Brasil estará desde o séc. XIX uma "época" - 30 a 40 anos - à frente de Portugal).
Mas em Portugal só após a implantação da República é que os registos respeitantes à população civil deixaram de ser efectuados e "conservados" nos cartórios paroquiais. Por ordem legislativa da "República", a partir de Abril de 1911 passou a existir Registo Civil, conduzindo às Conservatórias como hoje as conhecemos. Até lá, esse "cartório" (nascimentos, casamentos, óbitos, testamentos, etc.) estava exclusivamente confiado à Igreja, sem uma matriz civil e administrativa definida e igual para todo o território, vagamente orientada por duas ou três leis régias em dois séculos e sem outra ou supervisão continuada que não fosse a das Dioceses, prosseguindo essas os interesses "notarial" da Igreja e satisfazendo mal ou "diagonalmente" o registo o civil ou administrativo. Sendo cada pároco, na sua respectiva paróquia, ao mesmo tempo o conservador e o "escrivão" desse notário; sendo "suas" as regras de assento ou registo, os livros paroquiais revelam bem quer as variações de humor quer de ideologia social do "escrivão-conservador", além de ao longo de um mesmo livro de assentos serem bem visíveis as mudanças de pároco e "ideologia".

Variando ainda este "notário" com o meio ou região e a maior ou menor importância social de cada sobrenome em cada específico local, os Serzedello, tal como aconteceu com muitos outros, foram mantendo ou "deixando cair" o sobrenome: Em Lisboa e no Brasil manteve-se até hoje, apenas se perdendo nos casos em que os casamentos (e a lotaria/predominância de sobrenomes dos nubentes) vai atribuindo outros apelidos aos descendentes, como será o caso dos descendentes do ramo Serzedello-Pressler, por exemplo. No norte de Portugal (Póvoa de Lanhoso ou Amares e Braga) são ainda os próprios indivíduos ou o padre (ou ambos) que o "deixam cair" em vida. 

O caso mais significativo pode ser compilado nos sucessivos assentos paroquiais, da família de José Joaquim Barbosa Serzedello (Amares, Portugal): nascido e baptizado Barbosa Serzedello, irmão mais velho de Bento José Barbosa Serzedello, depois de ter estado até por volta de 1861 no Brasil, onde esteve estabelecido como negociante, regressou a Portugal onde enviuvou (tinha casado com uma prima igualmente Serzedello, enviuvou muito cedo e com 33 anos regressou a Amares), tendo voltado a casar.

No assento deste seu segundo casamento, com Olívia Vieira da Cunha, efectuado em Amares, mantêm-se os apelidos Barboza Serzedello, assim como se mantêm nos assentos de nascimento dos seus primeiros filhos, António José, Elvira Cândida e José Joaquim. Mas do quarto filho em diante o seu nome completo passa a ser escriturado apenas como José Joaquim Barbosa. A questão: porque deixa cair o apelido Serzedello?). 

Os seus filhos assumem como nome completo Fulano Vieira (da mãe) Barbosa (do pai). Mas e tal como já tinha acontecido nas gerações dos seus pais e avós, quase todos foram para o Brasil onde se radicaram e aí chegados recuperaram imediatamente o apelido Serzedello porque integravam uma vasta família conhecida e respeitada sob esse sobrenome. Nna primeira metade de 900, eram já centenas os Serzedello estabelecidos no Brasil, para onde foram, senão mais cedo, logo nas primeiras décadas de 800). 
É o caso  - entre outros - de Arthur Vieira Barbosa (Serzedello), nascido em 1879, sétimo filho na ordem de nascimento de José Joaquim Barbosa Serzedello e Olívia Vieira da Cunha que, tendo ido para o Rio de Janeiro em 1900 ou 1901, onde se estabeleceu com a Farmácia Moderna (farmácia e artigos hospitalares), nos planos civil, comercial, e administrativo passou a ser Arthur Vieira Barbosa Serzedello, com toda a legitimidade, dado ser esse o apelido paterno. Em 1909 nasceu a sua única filha Antónia Amélia, cuja certidão identifica (3ª Circunscrição do Registo Civil) como Antónia Amélia Barbosa (volta a ser omisso o apelido Serzedello). Tendo esta, apesar da nacionalidade Brasileira, vindo para Portugal após a morte dos pais, casou, viveu e faleceu cá, ninguém mais na sua linha de descendência (uma filha e seis netos) teve o apelido Serzedello (Serzedelo, após o acordo ortográfico da 1ª República).

Gerações de Pereiras (futuros Serzedello / Serzedelo)

 Gerações de Pereiras (futuros Serzedello / Serzedelo) identificadas até esta data (2023) 

notas de apoio à pesquisa

G 1 Sec. XVII ~~ 1600, Francisco Domingos, que casou com Ana Francisca (Prdª de Bouro);

G 2 Sec. XVII ~~ 1640, Isabel Pereira, nª em 1644

                       e que casou em 1681 com Lucas Rodrigues (Serzlº);

G 3 Sec. XVII ~~ 1680, Josefa Pereira, ncª em (+ou-) 1690

                        e que casou em 1710 com José Álvares (Serzlº);

G 4 Sec. XVIII ~~ 1700, Domingos Pereira, ncº  1711

                       e que casou em 1742 com Rosa Carvalha (Serzlº);

G 5 Sec. XVIII ~~ 1750, Maria Josefa Pereira, ncª em 1759

                                e que casou em 1784 com em Manuel António Gonçalves (Serzlº);

                         e ~~ 1760, João António Prª Serzedelo, ncº em 1762

                                 e que casou em (+ ou - ) 1800 com a sobrinha Maria Luiza (Lx)

G 6 Sec. XVIII-XIX

       ~~ 1790 - 1800, António José Pereira Serzedelo, que casou com Ana Margarida Rebelo

                                 Maria Luiza Pereira Serzedelo, que casou com o tio João António

                                 José António Pereira Serzedelo, que casou com Maria da Natividade Fogaça

                                 Joaquim António Pereira Serzedelo, que casou com Ângela Jesus Caleia (Lx)

                                                                                            e depois com Mª dos Anjos Marques (Lx)

                                Mariana Cândida Pereira Serzedelo, que casou com Manuel José Barbosa (Amr)

                                 João Pereira Serzedelo, ncº (+ou-) 1800

                                 e que casou com (Brasil)

G 7, Sec. XIX ~~1830 e ss, a geração dos juniores

fºs/as de João Antº e Mª Luiza,

                         Maria do Carmo Pereira Serzedelo, ncª em

                         e que casou com João António Vieira Serzedelo, seu primo (Lx)

fºs/as de António José e Ana Margarida,

                         António José Pereira Serzedelo Júnior, ncº em 1825

                         e que casou em com Teresa Maria Barbosa Serzedelo, sua prima  (Lx)

                         e o irmão João Guilherme Pereira Serzedelo

fºs/as de José António e Maria da Natividade,

                         José António Pereira Serzedelo Júnior, que casou com (Brasil)

                                                                                             e depois com (Brasil)

fºs/as de António Joaquim e Ângela J Caleia (info recª em Geneall.net)

fºs/as de António Joaquim e Mª dos Anjos


fºs/as de Mariana Cândida e de Manuel José Barbosa

                         Tereza Maria Barbosa Serzedelo, ncª em 1825

                         José Joaquim Barbosa Serzedelo, ncº em 

                        e que casou em com Ricardina Pereira Serzedelo, sua prima  (Brasil)

                                                                                             e depois com (AMR)

                         Bento José Barbosa Serzedelo, nascº em

                        e que casou em com Mª da Conceição Teixeira (Brasil)